segunda-feira, 11 de abril de 2011

Destino Cruel: A Descoberta - Cap. 01


Nos últimos quinze anos de minha vida, a palavra que mais me assustava era "parabéns". Por mais que eu soubesse que ela expressava alegria, eu sabia que, a cada vez que eu a ouvisse, eu estaria envelhecendo. Às vezes eu ficava me perguntando: Por que dar parabéns? Por que estamos ficando velhos, ou por que estamos completando mais um ano de vida? Raciocinando, dá no mesmo, não é? Então? Por que dá parabéns? Os meus dias de aniversário sempre se tornavam os piores de minha vida, em todos os aspectos.

- Pai, parabéns - falou o Eduardo, me abraçando, enquanto eu me arrumava para sair com a Layane.
- Não precisa me lembrar que estou chegando ao dia da minha morte, Eduardo - Reclamei.
- Ah pai, para de ser paranóico! Você ainda é novo, trinta e sete anos. 

Comecei a perceber que a cada ano, o parabéns do meu filho ficava cada vez mais frio. Eu não sabia por que, mas me parecia que ele já não era mais tão carinhoso como antes.

- Ah, adolescência! Que saudade eu tenho de você - pensei alto.
- Ué, você vive dizendo que sua adolescência foi sofrida, e blá, blá, blá. - falou Eduardo, deitado em minha cama assistindo futebol, enquanto eu escovava os dentes.
- E foi, mas eu amava os tempos em que eu não tinha rugas - respondi.
- Isso está virando doença, sabia?
- Não, isso não é doença, isso é envelhecer mesmo. - falei. - Vamos amor, já estou pronto - gritei.
- Estou indo - respondeu Layane do outro quarto, também gritando.
- Olha só garoto, eu e sua mãe vamos ao bar, vai ter show ao vivo. Não sei pra que estou indo, mas se ela insistiu, nós vamos, e você, trate de não sair de casa, não temos hora pra chegar.
- Claro que não, pai.

E então, fomos eu e minha esposa para o bar. Quando chegamos, todos olharam para nós. Eu não sabia ao certo se era para eu e minha mulher, ou se era só pra mim. Eu não sabia nem se estavam realmente olhando, ou era ilusão minha, por que aquela história de ficar mais velho estava enchendo minha cabeça. Comecei a olhar para mim mesmo, e percebi como eu havia mudado. Uma pança havia aparecido, e aquilo me matava. Nos sentamos, pedimos uma bebida, e conversamos um pouco.

- Vamos amor, vamos dançar! - Chamou Layane.
- Não quero, estou cansado - falei.
- Nossa Lucas, como você tá chato. Trinta e sete anos e ...
- Para de falar isso - falei, alterando a voz.
- Ai, desculpa - falou Layane.
- Acontece que eu estou cansado, só isso. Hoje trabalhei o dia inteiro naquela fábrica de brinquedos.
- Você fala como se fosse operário.
- E quem disse que só operário cansa? Você acha que ficar o dia inteiro olhando pilhas de papeis é confortável? 
- Ah, mas você também se entrega demais ao trabalho. Devia deixar disso, contratar alguém para cuidar das finanças.
- Quem? Você, trabalha de enfermeira, o Eduardo, vive exibindo suas irresponssabilidades, tem o Riley, que é formado nesse negócio, mas mudou para Bahia com sua família ano passado, aí, só resta eu. Não posso contratar ninguém que não seja de minha confiança. E esse não é só o problema. O criador de carrinhos pediu demissão para morar em outro lugar, e agora, vai ficar difícil criar brinquedos, eu não sei fazer nada mais que uma roda, e olhe lá.
- Pelo amor de Deus, para de falar em negócios, trabalho, cansaço, ou coisa do tipo. Chega - falou a Layane - vamos embora. - falou ela me puxando.
- Mas foi você quem começou essa história de trabalho.
- Eu não teria começado se você não tivesse tocado no assunto.
- Mas...
- Vamos pra casa - falou Layane.

Deixei o dinheiro em cima da mesa, acreditando que talvez seria o suficiente, ou até demais, para pagar a metade da bebida que pegamos. Então, entramos no carro sem olhar um para a cara do outro, e voltamos para casa. 

Chegando lá, fui direto ao banheiro colocar uma roupa para dormir. Olhando-me no espelho, percebi que meus cabelos estavam mais brancos do que de um idoso de oitenta anos. Ah, como o tempo estava passando rápido!

- Lucas! - gritou Layane.
- O quê? 
- Venha ver só isso.

Desci rápido a escada, e fui para o quarto do Eduardo, que era de onde vinha sua voz. 

- O que foi? - perguntei.
- O Eduardo, ele não está aqui. 
- Deve ter saído com os amigos, amanhã me acerto com ele.
- Como assim, amanhã me acerto com ele?
- Não ligo mais pro que ele faz, ou deixa de fazer, o Eduardo é responsável por suas atitudes. Eu vou mesmo é dormir.

Falei, subindo, enquanto ela me seguia. Deitamos na cama, eu virado para o lado esquerdo, e ela para o lado oposto. Parecíamos um casal separado. Eu não falei? Todo aniversário é assim, alguma coisa de ruim sempre tem que acontecer.

Continua...

Um comentário:

Me ajude curtindo minha página de humor no Facebook.

Basta clicar, mais nada. Por favor, clica, clica, vai.